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Política

Padre de Dourados sugere, em missa, que Lula é o 'demônio'

Promotor de Justiça que ouvia a pregação o denunciou ao bispo da cidade

Publicada em 27/01/23 às 18:21h

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Padre de Dourados sugere, em missa, que Lula é o 'demônio'

Polêmica na missa de domingo passado (22) na Catedral Diocesana Nossa Senhora da Conceição, uma das principais igrejas católicas de Dourados (município distante 230 km de Campo Grande), segunda potência econômica de Mato Grosso do Sul: o padre  que promovia a cerimônia, sugeriu no sermão dominical que o governo de Lula seria partidário ao aborto, que uma moradora do município teria sido encarcerada injustamente em Brasília, naquele ato em que milhares de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro depredaram os prédios da Praça dos Poderes e ainda mandou uma indireta ao petista, "o demônio acha que venceu, mas Jesus é maior do que ele".

O discurso do pároco, Leão Pedro, incomodou um dos fieis que assistia a celebração. Por discordar da fala do religioso, o promotor de Justiça do Ministério Público de Mato Grosso do Sul, João Linhares Júnior mandou, por escrito, uma queixa ao bispo da igreja, chefe local da igreja em questão, Dom Henrique Aparecido de Lima, que prometeu providências, segundo o promotor.

Ao Correio do Estado, por mensagem de Whatsaap, Linhares Júnior, enviou trecho do requerimento entregue ao bispo.

"Não importa o colorido ou o perfil político que se tenha, penso que durante a missa, um ato sagrado para os católicos, não se deve abordar assunto político-partidário que gere desarmonia ou sentimentos negativos. Os cristãos católicos vão à missa para orar, elevar o espírito, agradecer, louvar a Deus e buscar paz, amor", diz trecho da reclamação contra o padre.

No protesto de Linhares, ele diz, também, que:


"Alguns assuntos, absolutamente estranhos e desagregadores, não me parecem ser objeto do ato religioso e muito menos construtivos para os fiéis. Ademais, a democracia deve ser respeitada, especialmente neste momento tão exasperante e delicado. Defender movimentos antidemocráticos como sendo legais ou pacíficos e tentar desacreditar o papel das instituições que estão apurando os crimes não se afigura também profícuo e razoável".

O promotor informou ao jornal que, em diálogo com o bispo, soube que "as providências serão adotadas, se for o caso, exclusivamente pela Igreja, se ela reputar que o comportamento do padre foi contrário às suas regras".

As falas do Padre

Também conforme o manifesto do promotor, o padre da Diocesana Nossa Senhora da Conceição, teria politizado "ostensiva e desnecessariamente o ato religioso, tecendo comentários absolutamente irrelevantes, impertinentes e alguns dos quais inverídicos, adotando, por conseguinte, conduta incompatível com as normas da Santa Igreja Católica e malferindo o pundonor e o decoro que deveria observar".

No discurso aos fieis, o padre afirmou também que o governo de Lula quer liberar o aborto. No caso, o religioso incorre numa informação falsa.

O promotor João Linhares sustenta ainda em sua queixa que o padre, na celebração da missa, disse que uma catequista [pessoa que cumpre papel importante aos cristãos] teria sido detido em Brasília de maneira "injusta e arbitrária", pois nada de errado "teria feito".

No dia 8 de janeiro último, o STF (Supremo Tribunal Federal) determinou a prisão de ao menos 1,5 mil pessoas que foram a Brasília em protesto à eleição de Lula e exigirem o retorno do regime militar, e apoio ao ex-presidente Bolsonaro.

Pela relação dos capturados, 32 dos presos nasceram ou vivem em Mato Grosso do Sul, dos quais 11 tiveram as prisões convertidas de provisórias para preventivas, ou seja, sem data definida para acabar. O restante saíram da prisão de Brasília e retornaram para a casa com tornozeleira eletrônica.

O STF, a pedido do MPF (Ministério Público Federal) vai investigar os implicados no caso por associação criminosa, tentativa de golpe de Estado,  terrorismo; tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito; ameaça; perseguição e e incitação ao crime.

O outro lado

Até a publicação deste material, a Diocese de Dourados não tinha se manifestado oficialmente. No entanto, já depois de divulgado o episódio pelo jornal, segundo o promotor de Justiça João Linhares Júnior, o bispo lhe informou que:

"O assunto foi resolvido. Ele [bispo Dom Henrique] asseverará ao clero que assuntos político-partidários não devem ser abordados durante as missas para que a paz, a harmonia, bons sentimentos e o amor sejam predominantes e constantes entre os fiéis e os sacerdotes".




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